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Trinte e um pedaços do passado

Existem coisas que o tempo não apaga. Nem o tempo. Nem as falhas da memória. Nem as circunstâncias da vida.



São coisas imponentes a qualquer tempestade e a qualquer barreira. Coisas que, quanto mais o tempo passa, mais intensas e grandiosas se tornam; relíquias não-materiais.
Os caracóis, o jeito de colocar os pés, o riso e as expressões tipicamente comuns dela – destas relíquias que falo. Ainda que jamais voltaremos a ser só nós contra o mundo, como prometemos infinitas vezes em tempos, seremos sempre nós e a nossa história será sempre nossa e sempre existirá. Ainda que a nossa música já não passe na rádio e nós tenhamos apagado as gravações onde a cantávamos, a música sempre existirá e sempre terá um cheirinho a lembranças e ao amor que deixamos escapar por entre os dedos. Talvez a culpa tenha sido da idade – por sermos jovens demais para encararmos tamanhas responsabilidades –, talvez tenha sido nossa, por não sabermos cuidar, ou talvez seja do nosso orgulho que sempre foi maior que tudo e que não nos permitiu recuar e pedir desculpa uma à outra.
Existem coisas que o tempo não apaga. E hoje eu sei, se nos cruzarmos novamente na mesma rua, jamais irei deixar-te passar sem ao menos abraçar-te. Por tantas vezes que deixei-te escapar, agora sei o que é o mais certo a fazer.
- vk.

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