Trinta e Um Dias de Outubro

Preciso de alguns minutos.

O meu objetivo é refrescar-te a memória.

Já faz imenso tempo que não te vejo. Na verdade, faz tanto tempo que não sei se faz meses ou anos.  De vez em quando sinto pequenos fragmentos dos meus velhos sentimentos e no fundo eu até entendo a razão dessa permanência. Quando sentimos algo intenso, fica gravado em nós e a pessoa em questão acaba cravada na nossa memória. Quando entendi isto, pensei que nunca iria parar de reverberar-me naquele mesmo tom que eu me colocava quando estava contigo. Era um tom doce e meigo e eu não queria parar, mas foi tão doce que acabou por derreter.

Não foi para ti, assim como não poderia ter sido por ti. Poderia ter sido para qualquer outra pessoa, mas foi para mim o tempo inteiro. Derreteu todo esse sentimento para mim, até que desapareceu. E eu continuei a alimentar-me a mim mesma contigo. Alimentei o meu ego sedento com os teus olhos grandes, tão castanhos e atrevidos e as tuas provocações tão intensas, das quais eu estava tão confiante que eram para mim. O mais engraçado é escrever isto e ver como tudo soa de uma forma tão fétida; e sem exageros!

O que te quero reavivar na memória são todas aquelas vezes em que só eu permaneci ao teu lado. Consegues recordar-te?

Eu sempre fui a pessoa que ouvia todos os teus problemas, apoiava-te e nunca vacilei. Eu apareci na tua vida e pouco a pouco mostrei-te o valor que tens. Fiz de ti uma pessoa melhor e tu sabes bem que o fiz mesmo. Um dia todos te deixaram e eu fiquei.

Lembras-te?

Cada minuto que passei a teu lado foi intenso. Eu nunca os vivi como se fossem os últimos, contudo, sabia que um dia iriam ser.

Quanto tempo se passou desde a última vez que conseguimos confiar uma na outra?

A nossa história já não mudará e fosse ela como fosse, fomos nós que escrevemos.

Durante largos e longos meses eu tratei sempre de resgatar-te e trazer-te para o meu presente, pois no fundo, eu só queria ter uma oportunidade de poder despedir-me de nós de uma forma menos sofredora.

Até que chega o dia em que acordo e o meu passado era, de facto, presente. Voltaste. Vieste hesitante, mas vieste. Apareceste novamente e afirmaste firmemente que estavas diferente, crescida e que pedias desculpa pelo passado.

Percebi que não há passado que realmente te tenha deixado para trás. Ainda fazemos parte da vida uma da outra. Disse-te para desapareceres e tu disseste que já me esqueceste, mas não há como negar que nas noites frias lembramos os momentos em que fazíamos diretas e ríamos debaixo do cobertor para que os nossos pais não ouvissem. Não há como negar que não pensas em mim quando passas no sítio onde antes estive contigo e onde tirámos fotos ou quando ouves o nome da minha cidade. Não podes negar, tal como eu também não sou capaz. A questão é que o destino está traçado e por muito que já tivéssemos tentado mudá-lo, não dá. 

Por fim, eu quero salientar que não desacreditei no amor, mesmo que tu me tivesses dado todas as razões para tal. Amor é o que eu sinto bem no fundo, naquele recanto do meu coração do qual nunca te tirei nem houve ninguém capaz de o substituir. Amor é o que eu sinto depois de te odiar tanto.
Desta vez, a carta para ti não foi um desabafo lamentável sobre saudade. Desta vez, escrevi em defesa da nossa amizade. Esta amizade existiu. Esta amizade, felizmente, ainda existe.

-vk.